Para as mulheres, essa é uma questão
muito complicada, porque ficamos divididas entre a realização pessoal e
profissional que o trabalho nos proporciona, além da questão financeira, pois
hoje em dia, sem dúvida, o salário da mulher é muito importante para compor o
orçamento familiar, versus a
necessidade de criar os filhos. E quando falo criar, falo de estar realmente
junto, ensinar a andar, falar, ler histórias, educar, ajudar nas lições, etc. O
nosso instinto maternal e também um pouco da nossa cultura, trazida pelas
nossas avós e mães, nos impele para isso, mas a nossa realidade atual é outra!
E esse dilema nos acompanha, sem que haja uma resposta ideal ou correta para
essa questão.
O fato é que cada mulher deve
procurar a sua própria resposta. Deve “se encontrar”, como mãe e profissional,
ou somente como mãe. Deve descobrir (às vezes até por tentativas e erros), qual
é o seu caminho a seguir. E isso sem ser medo de ser julgada! A nossa
sociedade é um pouco “má”, às vezes, porque quer impor um determinado modelo.
Mas não tenha medo de seguir o seu coração e fique firme na sua decisão. Você
sabe o que é melhor para a sua família, para os seus filhos! Se você e o seu
companheiro estiverem em consenso sobre o que fazer, não se preocupe com o
resto. E claro, nada é fixo! Afinal, as crianças crescem, mudam, vão aos poucos
“soltando-se para o mundo”, e com isso mudam também as nossas prioridades e
necessidades.
Essa receita parece simples, mas
não é! A gente sofre para tomar uma decisão, sofre por ter que enfrentar
julgamentos da sociedade, sofre por ter que encontrar pessoas de confiança que
cuidem das crianças no nosso lugar (e que as ame tanto quanto nós!), sofre,
sofre, sofre! E se culpa o tempo todo! Ser mãe não é fácil... rs...
Vou contar para vocês como foi a minha
experiência, e qual foi a minha decisão:
Bom, em primeiro lugar, é
importante dizer que trabalho desde os 15 anos de idade, sempre em empresas! E
contei para vocês nesse post aqui
que no meu último emprego trabalhei por 8 anos, registrada, tudo certinho. Ganhava
bem, não posso negar. Entrava cedo, saía tarde. Ia para São Bernardo/SP,
Guarulhos/SP, viajava para Minas Gerais, etc. Vivia esgotada, cansada,
estressada. E além disso, estava estagnada, desmotivada e infeliz. Então, quando
engravidei, decidi que não ia mais trabalhar em empresas. Ou ficaria em casa,
como mãe em período integral, ou ia trabalhar com algo mais flexível, que me
permitisse ganhar dinheiro mas também cuidar da minha neném.
Ficar em casa não deu certo. Para
as mulheres como eu, que trabalharam por muito tempo, e que estão acostumadas
com a independência, com a realização pessoal, etc., é complicado mudar drasticamente
de estilo de vida. Além disso, eu precisava sair de casa, me arrumar, me
maquiar, ver gente, conversar. Eu estava pirando em casa! Mas voltar a
trabalhar em empresa, jamais!
Aí, fui trabalhar com o marido,
como motorista de van escolar. Não foi fácil, não! Aprender caminhos (sempre
fui uma negação para decorar caminhos!), dirigir um carro grande, entreter um
monte de crianças “viradas no Giraia”, conseguir cumprir os horários, não
xingar ninguém no trânsito, fugir de congestionamentos, acidentes, passeatas,
alagamentos, avalanches e terremotos e outras mil coisas que só acontecem no
trânsito de SP, ufa!
Mas uma das coisas que mais me
chamaram a atenção, foi o preconceito da sociedade, inclusive do maridão!
Acontece que eu sempre fiz a linha “intelectual”. Desde criança/adolescente
amei ler, estudar, e cresci ouvindo que tinha que estudar para ser alguém na
vida. Então, segui por esse caminho. Fiz inglês, espanhol, computação,
faculdade, inglês e espanhol de novo, pós-graduação, cursos extras, fui dar
aula como voluntária, etc. E quando comecei a trabalhar no transporte escolar,
muita gente me disse: “você vai deixar todo o seu potencial de lado? A sua
carreira? E a sua faculdade e a pós? Você vai dirigir van??” Até o mozão me
disse um dia: “Você estudou tanto para fazer isso?? Ficar o dia inteiro
dirigindo?”
Comecei até a ficar com vergonha,
pensando: “Nossa, será que estou me diminuindo muito? Será que eu quero mesmo
fazer isso?”
Gente, mas a diferença está em
você FAZER A ESCOLHA. Uma coisa é você não ter escolha. Só tem aquilo e pronto.
Aí, vira um fardo, um peso, porque você fica olhando o jardim mais bonito do
vizinho. E outra, é você escolher porque QUER! Aí, você ama e valoriza o que
faz. E faz bem feito!
E eu amo!!! Dirigir me dá uma
sensação de liberdade, de bem-estar! “Livre soy, Livre soy”! E aí, não preciso
mais andar de salto, de roupa social, toda empinada como era antes. Agora me
visto com o meu estilo, com a minha personalidade, e bem confortável. Meus
companheiros de trabalho são crianças, que são puras, verdadeiras, me fazem
rir, me dão carinho de graça. Vou escutando música, e muitas vezes, cantando
alto no carro! (#aloka) Minha única “decisão estratégica” a ser tomada, é o
melhor caminho, o que tem menos trânsito, qual o melhor trajeto para chegar à
escola. E aí, de bônus tenho tempo livre pelas manhãs, tempo livre às tardes e quase
3 meses de férias no ano, para viajar e curtir junto com o meu amorzão e a minha
Heleninha! Overdose! KKKKK Tá bom para vocês ou não?
Claro que nem tudo são rosas, mas
a balança é muito mais positiva do que negativa! E também é claro que eu não ter
mais o mesmo salário de antes, fez com que diminuíssemos um pouquinho o nosso
custo de vida. Se fez falta? Não! E aí entra o consenso do casal. Agradeço
muito por meu marido ter apoiado a minha decisão! Além disso, eu e ele estamos
em uma fase desapegada do “ter”, e muito mais preocupados com o “ser” bons pais
(ainda mais agora, com um novo baby à caminho!), bons parceiros, etc.
Essa foi a minha escolha, a minha
decisão, e deu certo! Estou feliz, realizada e acompanhando o dia a dia da
minha princesa. Mas tenho amigas que trabalham
fora em período integral (e que também sofrem preconceito, por deixarem seus
filhos em escolinhas ou com babás), e justamente porque elas fizeram essa
ESCOLHA, estão também felizes e realizadas. E outras que ESCOLHERAM dedicar-se
integralmente aos filhos (e também sofrem preconceito por isso!!), também estão
felizes e realizadas! O segredo é tomar a sua própria decisão, pesando os prós
e os contras, e pensando no bem da família.
E você? Já pensou em qual vai ser
a sua ESCOLHA? Depois de feita, não se arrependa. Siga seu coração!
Para finalizar, copio aqui 2
textos que me marcaram muito e têm tudo a ver com o nosso assunto de hoje! Os originais em inglês são do blog The Healthy Doctor e já foi traduzido por diversos sites. Segue abaixo a versão que escolhi, do Mamãe de Casa:
TEXTO 1: Carta de uma mãe em tempo integral para uma mãe que trabalha fora
Cara Mãe que trabalha fora,
Eu sei que, às vezes, você é julgada por deixar seus filhos aos cuidados de outras pessoas para trabalhar. Algumas pessoas até sugerem que você não ama os seus filhos tanto quanto nós, mães em tempo integral, e que é melhor para as crianças ficarem em casa com suas mães.
Como podem dizer isso a você? Eu sei que você ama os seus filhos tanto quanto qualquer outra mãe. Eu sei que voltar ao trabalho não foi uma decisão fácil. Você pesou os prós e os contras, muito antes de conceber um bebê. Esta sempre foi uma das decisões mais importantes de sua vida.
Eu vejo você em todos os lugares. Você é a médica para quem eu levo os meus filhos quando estão doentes. Você é a alergologista do meu filho. Você é a fisioterapeuta que cuidou do meu marido. Você é a contadora que faz nossas declarações fiscais. A professora da escola primária do meu filho. A diretora do nosso centro de acolhimento de crianças. Professora de ginástica da minha filha. A corretora imobiliária que vendeu a nossa casa. Que tipo de mundo teríamos se você não estivesse lá por nós? Se você tivesse sucumbido às pressões daqueles que insistiam que o lugar de uma mãe é em casa?
Eu sei que você leva em consideração a sua família em todas as propostas de trabalhos. Eu sei que você acorda uma hora antes que todo mundo, pois só assim você pode fazer algum exercício ou ter algum tempo de silêncio. Eu sei que você já participou de reuniões após ficar acordada a noite toda com o seu bebê. Eu sei que quando você chega em casa à noite, o "segundo turno", começa. Os críticos não entendem que você cuida da sua família e mantém um emprego. Você chega em casa, faz o jantar, dá banho nos seus filhos e lê histórias para eles. Você os enche de beijos de boa noite. Você paga as contas, faz as compras de supermercado, lava a roupa, os pratos, assim como qualquer outra mãe faz.
Eu sei que, muitas vezes, você se sente culpada por passar tanto tempo longe de seus filhos e sacrifica o seu tempo livre. Eu sei que você não pode tirar um "dia de folga" enquanto seus filhos estão na creche. Eu sei que você passou a aceitar que o trabalho é o seu "tempo livre" agora. Eu sei que quando você está no trabalho você não desperdiça um único minuto. Eu sei que você almoça em sua mesa, não sair para tomar um café e é totalmente dedicada e concentrada em seu trabalho. Afinal você decidiu estar lá depois de tudo. Você quer estar lá.
Eu sei como você é exigente com relação a quem está cuidando de seus filhos, e que esse cuidado é confiável. Eu sei que você só deixa seus filhos em um lugar onde você tem certeza de que eles serão amados e bem cuidados. Eu sei que você passa muitos dias cuidando de seus filhos em casa quando estão doentes, e sei que sacrifica a sua remuneração. Eu sei que, secretamente, você gosta destes dias, e se realiza por estar com seus filhos.
Eu sei que, às vezes, você se sente culpada por não estar lá o tempo todo. Mas, mãe que trabalha fora, eu sei disso. Você está dando um exemplo maravilhoso para os seus filhos. Você está mostrando a eles que uma mulher pode ter uma carreira, contribuir de alguma forma fora de casa, e ainda ser uma mãe amorosa. Você está mostrando para as suas filhas que elas podem fazer o que quiserem de suas vidas. Você está mostrando força, resistência, dedicação, persistência e está fazendo isso com muita alegria e amor.
Eu apenas queria que você soubesse que eu entendo. Porque nós duas somos mães.
Saudações das trincheiras!
Assinado: Mãe em tempo integral.
TEXTO 2: Carta de uma mãe que trabalha fora para uma mãe em tempo integral
Cara Mãe em tempo integral,
Algumas pessoas têm questionado o que você faz em casa o dia todo. Eu sei o que você faz. Eu sei porque eu sou uma mãe e por um tempo eu fiz isso também.
Eu sei que você faz o trabalho não remunerado, muitas vezes o trabalho ingrato, que começa no momento em que você acorda e nem termina quando você vai dormir. Eu sei que você trabalha aos fins de semana e durante a noite, sem que consiga identificar com clareza quando acaba o seu dia ou quando chega o final de semana. Eu sei que as recompensas existem, mas nem sempre são muitas.
Eu sei que raramente você consegue tomar uma xícara de café ou chá. Eu sei que sua atenção está sempre dividida e que quase sempre começa uma nova tarefa antes de, sequer, ter terminado a outra. Eu sei que você, provavelmente, não consegue um tempo para descansar, mesmo estando em casa, a menos que você tenha um filho único que ainda tire alguns cochilos durante o dia.
Eu sei dos seus desafios diários, geralmente sem o apoio do seu marido. As birras, os acidentes do desfralde, as batalhas na hora da comida, a comida no chão, o giz de cera na parede, a rivalidade entre irmãos, o bebê que parece nunca parar de chorar. Eu sei como o trabalho parece incessante, como um ciclo sem fim - você compra alimentos, prepara, cozinha, tenta dar para seus filhos, limpa o chão, lava os pratos e repete isso de três em três horas.
Eu sei que você fantasia ter uma hora para si mesma para comer em paz, ou tirar um cochilo à tarde. Eu sei que às vezes você se pergunta se tudo vale a pena e sente inveja de suas amigas que têm pausas para um café no meio do expediente. Eu sei que, às vezes, quando seu marido chega em casa à noite após um dia de trabalho e quer colocar os pés para cima, justo quando você precisa de um alívio, isso te dá vontade de chorar.
Eu sei que você é incompreendida por muitos que não entendem as dificuldades de cuidar dos filhos pequenos sozinha, o dia todo, e se referem a você como alguém que está curtindo a vida. Eles imaginam que você passa o seu dia tomando café enquanto seus filhos brincam em silêncio. Eu sei que você perdeu a sua independência financeira. Eu sei que você acha engraçado e, às vezes, irritante quando alguém fala "graças a Deus, hoje já é sexta-feira!". Porque, para você, todo dia é a mesma coisa - não há sexta-feira, nem pausa alguma em seu trabalho. Eu sei que muitas pessoas não entendem que você trabalha - você simplesmente trabalha, mas não é remunerado e é em casa.
Mãe em tempo integral, eu não sei como você consegue fazer tudo isso. Eu admiro a sua paciência infinita, a sua capacidade para enfrentar cada dia com um sorriso e levar alegria para a vida de seus filhos, mesmo quando eles te desafiam. Admiro sua dedicação em ser uma presença constante na vida de seus filhos, mesmo que nem sempre seja uma tarefa fácil. Admiro a maneira como você trabalha sem esperar qualquer recompensa - sem promoções, sem fama, sem salário. Eu sei que você quer que seus filhos se sintam importantes e amados, e mãe em tempo integral, isso é o que você faz de melhor.
Eu apenas queria que você soubesse que eu entendo. Nós duas somos mães. E eu sei.
Saudações das trincheiras!
Assinado: Mãe que trabalha fora.
Sarah Miranda